O lobo atirava-se contra a vidraça. Louco. Irado. Gengivas retraídas. Dentes rangendo. Tomás achava que era um pesadelo. Não quis acordar.
Uma noite a vidraça quebrou. Arrastou-se da cama. Estilhaços no chão. Era real. O lobo tentava entrar. Assustado, Tomás correu até o armário, pegou a arma, colocou as balas, fechou o tambor, engatilhou, mirou e atirou na cabeça da fera, que caiu ensangüentada, no lado de fora da casa.
Saiu e verificou: o lobo branco estava morto.
Voltou para o quarto e fechou as cortinas. De manhã, resolveria o problema com o corpo. Ademais, ainda tinha dúvidas se estava acordado ou dormindo.
Tateando no escuro, acendeu e apagou rapidamente o abajur, para encontrar a cama. Enquanto deitava, seu cérebro processou as imagens do instante anterior: no raio de alcance da luz, um esqueleto, com uma capa preta e uma foice na mão.
O velho Tomás faleceu naquela noite. Enfarte fulminante.
©, 2009, Nancy Lix.
2 comentários:
E a dona baratinha sobreviveu para narrar a história.
Dr Jekyll não pode polir os próprios sapatos, sem estar polindo os sapatos do Mr Hyde.
Explêndido!
Me interesso com o motivo pelo qual Tomás não captou a origem do lobo.
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