boneca de fetiche,
objeto da sua perversão,
deixei de sê-la para ser gente,
antes de nascerem as asas
e tornar-me peregrina,
uma peregrina veloz
com venta nos pés
e capacete invisível,
antes de encontrar a filosofia,
solitária palidez ,
solidez abstrata,
gelada sabedoria,
antes de furar os meus olhos,
e não servir mais de espelho
para nenhum mortal,
nem objeto de mim mesma.
Voltei-me para dentro
onde não existe reflexo,
só escuridão,
pulsão.
E sem olhos eu ouvi,
ouvi o canto dos monges nos Urais,
senti a paixão dos mortos que é a vida,
a paixão dos vivos que é a morte.
Num rasgo de espada no meu ventre,
tornei-me vida pela primeira vez.
© 2009, Nancy Lix.
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