A PORTA

Sentada na escuridão ela esperava. Esperava que a porta se abrisse e ele entrasse, o súbito clarão. O clarão de qualquer coisa que a fizesse sentir-se viva. Uma idéia. Uma voz. Um destino. Ao seu lado tudo já era morto. Atrás, um passado nada gentil. A porta à sua frente, uma esperança. Mas uma esperança de inseguras expectativas. O desconhecido a apavorava.
Tudo estava quieto. Terrivelmente quieto. Sua mente vagava por antigos sonetos, amarrada às rimas. Métricas linhas. Estrofes calcificadas. Não conseguia ousar um verso livre. Sua vida era uma imensa folha de poesia calhada.
Não conseguia mexer-se. Não era tanto o pânico depressivo que invadia a sua alma, mas uma artrite reumatóide de desejos viciados, calcificados pelo excesso de fantasias. E fuga. Fuga das realidades possíveis que poderiam aliviar o cansaço repressivo das exigências que se impunha. Perfeição. Obsessão. Nada além disso despertava o seu interesse. A vida tinha que ser perfeita, ou não valia a pena viver.
Decidiu ficar sentada.
©, 2008, Nancy Lix.

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