Sonho dentro de um sonho

Na testa toma o meu beijo!
E, agora que eu te deixo,
Confessar é meu desejo -
Não, não erras ao julgar
Que vivo só a sonhar;
Mas se a esperança voou
Na noite, no dia ou
Numa visão, ou nenhuma,
Não ficaria alguma?
Tudo o que vejo ou sonho
É sonho dentro de um sonho.

Estou de pé frente ao mar
Batendo no quebra-mar
E tenho nas minhas mãos
Areia que sinto em grãos -
Tão poucos! Mas como vão
Por meus dedos para o vão,
E choro em vão - choro em vão!
Ó Deus! como segurar
O que não posso agarrar?
Ó Deus! não posso salvar
Um grão desse cruel mar?
Será o que vejo ou sonho
Um sonho dentro de um sonho?


(Edgar Alan Poe, 1827)

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